terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

25 anos de Antropologia Biológica em Portugal


Boa tarde a todos!

Hoje faço uma retrospectiva dos 25 anos de Antropologia Biológica em Portugal. A antropologia Biológica é um dos maiores campos da Antropologia e na minha opiniao, o mais interessante.
Salvo as louváveis intervençoes de Muge e Cesareda ou os concheiros do Sado entre 1950-60 e ainda mais umas poucas, até aos finais dos anos 80 era notório que os ossos continuavam a ser vistos como um entrave ao bom prosseguimento das escavações arqueológicas. Nos ultimos 20 anos os ossos em contextos arqueológicos aquiriram um papel cada vez maior e mais importante. O reconhecimento de que os ossos são o de que mais real resta do nosso passado e de que podem dar-nos um sem número de dados acerca das populações do passado consolidou-se. Os ossos e os dentes funcionam como uma verdadeira "base de dados" da vida do individuo. Atraves da análise dos ossos podemos saber o sexo, a idade à morte , a estatura, a provável causa da morte, grupo étnico, etc...
O sistema esquelético é um dos sistemas corporais mais resistentes à passagem do tempo e os dentes por sua vez possuem a matéria mais dura do corpo humano, o esmalte dentário podendo por isso ser equiparados ás caixas negras dos aviões. Devido a estes avanços foi criado em 1999 um regulamento geral que obriga á presença de um antropólogo com formação em antropologia biológica sempre que seja encontrado um esqueleto. Temos de referir que a "Escola de Coimbra" teve e tem um grande papel no ensino da Antropologia em Portugal, tendo criado a licenciatura de Antropologia em 1992. Num período de 15 anos surgem cerca de 20 doutorados. Isto mostra o desenvolvimento desta ciência em Portugal e uma maior interdisciplinariedade especialmente com a arqueologia. O esqueleto humano passa, indiscutivelmente, a ser visto como uma janela insubstituivel para o conhecimento do mundo dos mortos. Os últimos 25 anos revelaram pedaços do nosso passado de épocas tão longíquas como o Paleolítico Superior, Mesolítico, Neolítico até ao século XIX. Estas questões obtiveram, nos últimos anos, uma marior credibilidade graças a novas técnicas de dataçao, nomeadamente a técnica por AMS (Accelerator Mass Spectrometry) e a análise tafonómica. O esqueleto é um elemento incontornável de ligação entre a vida e a morte e a aceitação deste papel crucial foi também um desenvolvimento do último quartel do século passado. O facto de aqueles restos humanos pertencerem ás populações que criaram os objectos, passaram a interessar à comunidade arqueológica. Neste sentido muito arqueólogos começaram a entender o que a antropologia poderia oferecer e que a causa da morte raramente é perceptível com base nos restos ósseos. Sendo este um dos últimos sistemas corporais a reagir, é óbvio que serão sobretudo as lesões traumáticas peri-mortais que elucidarão a esse respeito. Outras das questões que surgiram nos ultimos 25 anos foram as das paleodietas e a da paleogenética, ambas a implicarem uma análise ao interior do osso, esta análise microscópica passa assim a ser tao importante como a macroscópica. Esta análise veio permitir desvendar se a dieta era mais vegetal ou animal, mais marinha ou mais terreste. Tornou-se possível acerder ao ADN mitocondrial e até nuclear de ossos tão antigos como os de Neandertais com cerca de 60 mil anos. O ADN abriu-nos sem sombra de dúvida horizontes. No entanto esta técnica deve ser utilizada só quando há uma questão científica muito concreta e bem equacionada pois é uma técnica invasiva e destrutiva.
Os avanços na Antropologia em Portugal está a par dos contextos científicos internacionais, ou seja, estamos perfeitamente actualizados. É extremamente gratificante saber que houve uma evolução tão grande em 25 anos e que a interdisciplinariedade entre antropólogos e arqueólogos melhorou significativamente. E é também extremamente estimulante saber que as questões arqueo-antropológicas estão longe de se esgotar, e que o mesmo se pode dizer das técnicas disponíveis para dar resposta a alguns desses assuntos. O que se pode esperar dos próximos 25 anos? Muito! =)

2 comentários:

  1. Bem vinda à blogosfera!

    A sua área é algo fascinante... O estudo do Homem é algo tão complexo e estimulante que prende qualquer pessoa a querer saber mais acerca desse mesmo tema!

    os melhores cumprimentos.

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  2. para mim um iniciado nestas artes da antropologia, ( aluno de 1º ano)tem sido revelador verificar que muitas coisas que hoje damos como adquiridas, foram realmente descobertas pela antropologia e pelo seu estudo e divulgação. ás vezes fazemos as coisas sem pensar, apenas em modo " automático" e com a antropologia acabamos por descobrir porque o fazemos.
    um abraço
    Paulo

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