terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Homem de Neanderthal: O nosso primo.

Homo neanderthalensis


Começaremos pelo Homo neanderthalensis uma vez que surgiu na Europa antes do Homo sapiens. Esta espécie terá surgido por volta dos 230.000 anos e desaparecido entre 28.000 – 25.000 anos atrás, tendo sido o pico do seu sucesso biológico há 60.000 anos, contudo, a população não deverá ter ido alem dos 15.000 indivíduos. O rasto dos vestígios osteológicos desta espécie leva-nos a várias regiões da Europa e Ásia.

Os importantes vestígios de Qafzeh, em Israel, mostram que os Neandertais, chegaram a esta região mais tarde que o Homo sapiens, surgindo assim um acesso debate sobre o posicionamento desta espécie na árvore evolutiva humana, bem como os resultados do ADN mitocondrial retirado de um fóssil de neandertal, por Svante Paabo (Universidade de Munique), com 40 mil anos. Esta chocante descoberta veio a revelar que os Neandertais e os humanos modernos começaram a divergir há 700 mil anos e foram uma espécie paralela ao Homo sapiens e não o seu antecessor.

Eram nómadas e viviam em qualquer tipo de ambientes, em grupos mais ou menos numerosos, dependendo dos recursos disponíveis. Sabe-se também que viviam em cabanas e acampamentos, usavam o fogo regularmente e cuidavam os elementos mais fracos do grupo. Durante o tempo mais frio recolhiam aos abrigos, grutas e cavernas. Eram já muito desenvolvidos e muito bem adaptados ao frio, visto que foram sujeitos a fortes glaciações pois as zonas onde viviam eram muito mais frias, do que hoje em dia. Para poderem viver nesses ambientes hostis eram muito mais robustos do que os humanos modernos.

Apesar de apresentarem uma estatura menor em comparação ao homem europeu moderno, eram exímios caçadores de animais de grande porte como elefantes, rinocerontes, bisontes, cavalos, renas, etc. Uma das maiores diferenças entre nós (humanos modernos) e os Neandertais, salta à vista: o crânio.

Este seria maior do que o nosso e mais alongado. Ao nível da face sobressaem as grandes e robustas arcadas supracilares e uma igualmente grande abertura nasal.

Mas se então, como provam estudos recentes, o neandertal já possuía o gene da fala, possuía uma capacidade craniana maior e era tão evoluído como o Homo sapiens, porque razão desapareceram?

O facto dos humanos modernos viverem em grupos sociais maiores, levaria a um maior desenvolvimento do cérebro, e consequentemente da fala bem como outro tipo de relações. Havia mais homens para caça, ficando assim mais elementos nos acampamentos que se podiam dedicar a outras actividades, potenciando uma maior e melhor resposta a contratempos. Pelo contrario os Neandertais viram-se obrigados a levar as mulheres e as crianças para a caça, devido á sua grande necessidade calórica, como comprovam os traumas e consequentes cicatrizações nos ossos dos membros superiores da maioria dos fosseis de Neandertais encontrados. Cada neandertal teria uma necessidade clórica de aproximadamente 5000 calorias/dia. Os seres humanos teriam desenvolvido então , uma “cultura da inovação” e teriam transmitido de geração em geração as capacidades práticas de sobrevivência e da tecnologia de fabrico de utensílios.

O facto dos humanos modernos terem grupos maiores, e com maior capacidade, poderia ter conferido aos seres humanos maior vantagem quando as condições se tornavam mais adversas. O ultimo refugio destes seres tão fascinantes e que tanto apaixonaram os paleoantropólogos por todo o mundo, foi Gibraltar onde as brasas da ultima fogueira se apagaram por volta dos 28 mil anos, talvez encurralados pelos mais altos e ágeis humanos modernos, munidos das suas lanças afiadas. Esta é sem duvida uma data tardia para a presença dos Neandertais, mas se calhar foi o ultimo fôlego de sobrevivência: uma gruta recôndita onde pensavam estar em segurança. É esse o fim do rasto destes nosso “primos” que foram heróis na sobrevivência em condições adversas e num mundo em constante mudança onde outra espécie lhes viria a tirar o lugar... o Homo sapiens.

Um retrato do Paleolítico



Conhecido também como a idade da pedra lascada (Gr. Palaiós – antigo; lithos – pedra) porque foi o tipo de vestígio mais encontrado durante as escavações em contexto pré-histórico (Cruz, 2007), foi referido pela primeira vez no século XIX por John Lubbock. O paleolítico pertence ao final do Plioceno (5 milhões - 1,8 milhões de anos) da Era Terciária e ao Pleistoceno (1,8 milhões de anos – 10.000 anos) Era Quaternária (1,8 milhões de anos – actualidade) e é o maior período da História do Homem ( cerca de 2,5 milhões de anos – 10000 a.C. ). Tem como umas das principais características as alterações climáticas.
Pode-se assim subdividir esta Era em várias glaciações e degelos. Sabe-se que durante estas glaciações as calotes de gelo cobriam desde o pólo norte, até ao sul das ilhas britânicas (Cruz, 2007). Os períodos entre estas glaciações correspondem a aquecimentos globais e são conhecidos pelos nomes das glaciações que os antecederam e precederam.

Glaciação de Donau

Interglaciar Donau - Gunz

Glaciação de Gunz

Interglaciar Gunz – Mindel

Glaciação de Mindel

Interglaciar Mindel – Riss

Glaciação de Riss

Interglaciar Riss – Wurm

Glaciação de Wurm


Para além das glaciações, esta Era fica também marcada pelos micro-climas característicos da Europa e em especial em Portugal, por sofrer influências mediterrânicas, atlânticas e continentais. Através destes processos foi possível identificar locais onde antes se encontravam mares e rios, e onde as populações humanas viviam devido à existência de muitos recursos. Esta mesma Era coincide de certo modo com o aparecimento das populações paleolíticas.
Visto que o paleolítico é um período muito grande foi convencionado que se dividia em três outros períodos tendo como base o tipo de instrumentos utilizados (indústrias líticas). Subdivide-se então o paleolítico em paleolítico inferior, paleolítico médio e paleolítico superior.

O inicio do fabrico de instrumentos líticos remonta a 2,5 milhões de anos atrás pela mão do Homo habilis em África, que coincide com o início do paleolítico inferior. Estes primeiros instrumentos eram extremamente simples e ficou conhecida como a indústria Olduvaiense (Olduvai- Quénia). A indústria lítica seguinte viria a se chamar Auchelense (cerca de 1,5 milhões de anos mais tarde) e caracteriza-se por instrumentos mais complexos.

Na Europa os instrumentos encontrados são do Modo 1 e datam de 750.000 anos e são atribuídos aos primeiros europeus- o Homo antecessor. Já em Portugal acredita-se existir uma indústria lítica pré-auchelense pois foram encontrados instrumentos atípicos, mas não desenvolveremos mais este tema polémico, pois daria para a realização de outro trabalho .

O paleolítico médio tem inicio por volta dos 100.000 anos e a indústria lítica desse período designa-se por Mustierense. São instrumentos característicos desta fase, os raspadores, entalhes e pontas. Durante este período assiste-se a um importante capítulo da evolução humana- a proliferação na Europa de uma espécie de forma humana- o Homo neanderthalensis. Crê-se existissem por todo o território europeu e que vivessem em grupos numerosos, mas também é possível que tivessem convivido com os primeiros Homo sapiens que apareceram por essa altura.

O último destes períodos, o paleolítico superior (36.000 anos) fica marcado pela existência de inúmeras industrias líticas como aurignense, gravettense, solutrense e magdalenense, assim como adornos pessoais em osso e chifre, estatuária simbólica e arte parietal (Cruz, 2007). Com o Homo neanderthalensis extinto há 28.000 anos, prolifera e triunfa o Homo sapiens.


O Menino do Lapedo



Menino do Lapedo: A mais importante descoberta paleoantropológica em Portugal


Esta descoberta foi um marco na Paleoantropologia portuguesa tendo uma dimensão e importância muito relevantes no panorama mundial. Atraiu a comunidade cientifica, a comunicação social e até vários romancistas (Cruz, 2007). Trata-se de um menino com cerca de 4 anos de idade que morreu há 24.000- 25.000 anos e que foi enterrado intencionalmente.

Corria o ano de 1994, quando uma máquina que procedia a terraplanagem, pôs a descoberto aquele abrigo (do lagar velho). Vários acontecimentos fizeram com que os trabalhos parassem e quatro anos mais tarde, durante uma prospecção foi descoberto o esqueleto. Cedo procedeu-se a um estudo de emergência no local. Foram estudados até à exaustão, tanto os vestígios osteológicos, como os adornos ali encontrados, que indiciavam um ritual funerário. Foram analisados pelos maiores especialistas do mundo, onde se inclui o Português João Zilhão.

O menino foi enterrado em decúbito dorsal, com o crânio e os membros ligeiramente inclinados para a esquerda. As mãos estavam sob a zona pélvica e os membros inferiores estavam paralelos e ligeiramente flectidos (Cruz, 2007).

Segundo os investigadores esta posição intencional não foi o único vestígio de um ritual de enterramento. Estes afirmam que a criança teria sido enterrada, envolta numa mortalha de pele de veado coberta com ocre e com várias ofertas. No local existiam ainda adornos como, uma possível tiara de dentes de veado e conchas que estariam associadas á região cervical. Este é o único enterramento dessa altura conhecido na Península Ibérica. Mas o mais espectacular nesta criança é que apresenta características em mosaico atribuídas a Homo sapiens e a Homo neanderthalensis, sendo provavelmente um híbrido. Este é contudo um assunto que gera muita polémica e está longe de um concesso cientifico.



domingo, 30 de maio de 2010

Peço desculpa



Não pude cumprir a promessa, por razões que me são alheias. Mas está para breve. Isso está prometido. =)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

É amanhã! lol



Boa noite pessoal. Amanhã venho cá escrever sobre o Menino do Lapedo. Uma criança portuguesa que gerou e continua a gerar muita polémica no meio científico. Não tenho tido muito tempo, e quando tenho algum, tenho falta de vontade de escrever, mas juro que amanhã é que é. :P


Continuação de uma boa noite a todos

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Livro "Como nos tornámos Humanos"



Já li o livro! Por acaso até já o tinha lido há mais de uma semana, mas só agora vim cá dar a minha opinião e como não podia deixar de ser, é a melhor. Outra coisa não seria de esperar. Apesar de já conhecer todo o conteúdo do livro, nunca é demais ler as partes que conhecemos deste intrincado puzzle que é a nossa história evolutiva. Com uma escrita simples, deliciosa e leve, a Drª Eugénia Cunha, guia-nos por 150 páginas de puro entertenimento e conhecimento. A única coisa que posso dizer é: leiam! =)

sábado, 17 de abril de 2010

Um pouco sobre a Professora Doutora Eugénia Cunha

Eugénia Cunha é Professora Catedrática de Antropologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC); Presidente do Departamento de Antropologia da FCTUC e do Grupo de Estudos em Evolução Humana (GEEV); Doutoramento em Ciências, especialidade Antropologia, em 1994; Co-editora do livro lançado no mercado internacional com o título Forensic Anthropology and Medicine: Complementary Sciences from Recovery to Cause of Death; autora de capítulos de livros científicos internacionais de referência e de 25 artigos publicados em revistas científicas internacionais de referência; orientadora de teses de doutoramento, coordena também o 2º Ciclo em Evolução e Biologia Humanas, e presidente da Forensic Anthropology Society of Europe, Eugénia Cunha é consultora nacional para a Antropologia Forense do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), sendo responsável por todos os casos de antropologia forense da delegação sul desta instituição. Em colaboração com o INML, já elaborou mais de centena e meia de relatórios de Antropologia Forense sobre casos entregues para análise pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária, com destaque para a análise antropológica das vítimas do massacre de Ambriz (Angola), a exumação do tenente-coronel Maggiolo Gouveia, o comandante da PSP em Díli que abandonou o exército português aquando da revolução timorense de 1975, a exumação e identificação de 11 militares mortos na Guiné (Guidage) e ainda o caso do triplo homicídio de Santa Comba Dão. Eugénia Cunha tem coordenado vários outros projectos de relevo, entre os quais a exumação, não consumada, do que se pensa ser as ossadas de D. Afonso Henriques e ainda o estudo dos restos humanos provenientes do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, do Mosteiro de Alcobaça e do campo da Batalha de Aljubarrota. Actualmente a sua investigação centra-se nas áreas da antropologia forense e biologia do esqueleto.

Finalmente!





Boa noite a todos!

Esta semana foi lançado, em Coimbra, o livro "Como nos tornámos Humanos", da autoria da Prof. Doutora Eugénia Cunha, a melhor antropóloga forense Portuguesa e uma das melhores do mundo. Este livro é da Impresa da Universidade de Coimbra e explica o essencial sobre a Evolução Humana. É o primeiro livro de divulgação ciêntifica na área da Evolução Humana, totalmente Português. Sem dúvida, uma excelente e interessante leitura para quem tem curiosidade e sede de saber. =)



quarta-feira, 7 de abril de 2010

As crianças na pré-história- Uma luz sobre a Infância da Humanidade

Fig.1 Reconstrução do rosto da menina de Dikika.



Boa Noite a todos!

Antes de continuar a falar dos restantes Australopithecus, dou aqui a conhecer as crianças fossilizadas que foram encontradas. A primeira de que vou falar é a Menina de Dikika.


A menina de Dikika- A menina mais antiga do Mundo


Trata-se de uma bébé de 3 anos, com cerca de 3,3 milhões de anos, da espécie Australopithecus afarensis e foi encontrada na região de Dikika, Etiópia. Esta região situa-se na margem do rio Awash, em frente de Hadar, o sítio arqueológico da região do vale do Rift.
Presa no arenito, os seus restos repousaram no sítio onde morreu, durante 3 milhões de anos, até que Zeresenay Alemseged, paleoantropólogo etíope a retirou cuidadosamente da rocha. Este é o bébé mais completo da antiguidade e o mais antigo. É também um dos melhores fosséis da sua espécie, pois ao contrario de Lucy, esta bébé possui os dedos da mão, um pé e o tronco completo. "A diferença mais impressionante é o facto de este bébé ter rosto", disse Zeresenay (fig.1). Esta foi uma descoberta extremamente importante, pois vem lançar uma luz sobre a forma como esta espécie viveu e cresceu. Esta bébé morreu durante a fase de amamentação e experienciou uma curta existência.
Através da observação do esqueleto conclui-se que o formato dos ombros assemelha-se ao de um gorila jovem, mas o ângulo que o fémur forma entre o joelho e a bacia é parecido com o de um humano moderno, sugerindo uma postura bípede eficiente. Tem uma testa suave, caninos curtos e o seu esqueleto não é maior que um macaco. Estes hominídeos teriam vivido e prosperado na galeria ripícola que flanqueava o antigo curso do rio Awash.
A menina foi descoberta no dia 10 de Dezembro de 2000 e em 2006 ainda não se tinha conseguido extrair todo o esqueleto da rocha dura. A recompensa? promenores raramente observados num fossil de australopiteco, entre os quais um conjunto de dentes de leite e a dentição defenitiva inclusa. Outra das conclusões é de que a menina seria parecida connosco da cintura para baixo e ainda tinha um dedo enrrolado, como se estivesse a agarrar algo. Descobriu-se ainda um raro exemplar de um osso hióide, osso mais tarde crucial para a fala humana. Esta descoberta permitiu vislumbrar-se uma fase antiga do aparelho vocal humano. Os joelhos são iguais aos dos humanos e a sua rótula é do tamanho de uma ervilha. A parte superior do corpo, apresenta várias características simiescas: cérebro pequeno, nariz achatado, e rosto longo, projectado para a frente. Fosse como fosse a menina de Dikika não era um macaco, que já tinham divergido dos seus antepassados há cerca de 4 milhões de anos antes. A biografia desta bébé é pequena mas o que ela representa em termos evolutivos é concerteza gigantesco.






terça-feira, 6 de abril de 2010

Olá a Todos!


Depois de tanto tempo sem escrever, decidi continuar com o Blog, visto que tenho recebido mensagens de pessoas a pedir para continuar! Obrigado a todos =)

p.s. Amanhã volto aos hominideos.